22 setembro 2006


PARA A CARÊNCIA DE UM MENINO


O pequeno menino carente havia partido deixando um grande vazio, desses que meninos carentes deixam para trás quando mudanças ocorrem em suas vidas, sejam elas pequenas ou grandes. O fato é que essa mudança no cotidiano de até então, deixada pela recente ausência de um menino carente, é sempre perturbadora. E geralmente essa perturbação é a de que com essa ausência nos encontramos carentes também. E digo também, por que não se sabe se os meninos carentes o deixam de ser depois da mudança.

Mas essa perturbação era maior do que uma simples carência, não que ela não existisse, existia sim! Mas além dela existia ainda a ausência da esperança, da possibilidade, de experiências não vividas, palavras não mencionadas, gestos não trocados, desenvolvimentos não acompanhados. E todas essas ausências eram sentidas verdadeiramente, independente de se em maior ou menor grau, de acordo com a longevidade da presença de até então.

Por que o fato é, que independente de generalizações, este menino carente em questão era de um presente recente, mas isso pouco importava. Assim como não importava encontros ou desencontros, fisicalidades ou não. O que importava eram os momentos, ainda que poucos, significativos, algo especiais e até mesmo lúdicos. Momentos de companhia, independente de como ela se dava, quando um ou outro precisava, quando se precisava de alguém para conversar ou para escutar, ou quando se precisava de alguém que nos faça sentir bem simplesmente com sua companhia.

E eram nesses momentos que eles se encontravam, e se regozijavam com aquela companhia, por que talvez nem soubessem que precisavam. E independente de se rapidamente ou por pouco tempo, se estavam distantes, ou sequer se chegariam a se re-encontrar... O que importava é que alguma coisa ficou, por que alguma coisa sempre fica.


Gustavo Porto Klein