Depois da tempestade...
para Liliana Castro
Verdadeiramente não sei o que dizer. Estou pasma com essa situação e acredito francamente que nada, absolutamente nada que você possa dizer vá mudar isso. E por favor, não me venha com desculpas esfarrapadas, declarações esdrúxulas ou argumentos mais do que batidos sobre a natureza da sua espécie, por que eu não engulo isso. Outras podem até cair, mas eu não!!! Já to mais do que tarimbada nesse tipo de situação, já vi acontecer muito, para me deixar enganar por pouco. Por tanto é melhor você vir com um raciocínio brilhante, um argumento irrefutável, por que senão, não cola!! Pelo menos comigo não.
Vai ficar calado? Não tem absolutamente nada para dizer em sua defesa ou você não é capaz de ter um raciocínio brilhante, muito menos um argumento irrefutável pra se defender, como também é típico da sua espécie?
Sabe o que eu acho engraçado? Por um momento eu cheguei a acreditar que era de verdade! Que poderia verdadeiramente dar certo. Que por mais que houvesse diferenças gritantes entre nós, por mais que parecesse fadado ao fracasso...Nossa!!! Como eu to sendo clichê!?! Enfim independente do fato d’eu saber o tempo todo que você não era “a pessoa da minha vida”, teve um momento, um pequeno instante em que eu realmente achei que daria certo. Não deu.
Não faz essa cara de espanto, não deu mesmo, já não deu. Por que veja bem, se você além de cometer o erro homérico que acabou de cometer, que por si só já é motivo mais do que suficiente para qualquer um acreditar que acabou e que de fato não deu certo, ainda por cima você é incapaz de argumentar qualquer coisa que seja em seu favor. Eu honestamente me julgo incapacitada de manter qualquer tipo de relação com alguém desprovido da capacidade de vir com uma idéia, por mais estapafúrdia que seja, numa hora como essa. AH! Desculpe! Esqueci! Realmente argumentos estapafúrdios não vão te salvar agora! O que só prova que você é incapaz de ter qualquer idéia inteligente que seja!!!!!!
Faça um favor a si mesmo e recolhe o último pingo de dignidade que te restou e retire-se da minha frente. Espero sinceramente que nossos caminhos não se cruzem nunca mais, o que apesar de parecer bastante difícil, acredito que irei conseguir até que esse engodo que se forma em meu estomago tenha passado.
E por favor, tenha a delicadeza de retirar todos e qualquer pertence seus daqui. Se fosse possível te pediria para levar as coisas que me disse, as promessas que me fez, os beijos, os afagos...SE você ao menos tivesse idéia de como tudo isso pareceu suficiente por um instante. Como eu cheguei a pensar que poderia durar pelo menos tempo suficiente para termos uma relevância na história um do outro. O pior é que devo ter acredito que tudo aquilo que você dizia era verdade, em algum momento eu acreditei, por que senão, não doeria tanto agora em que vejo todas aquelas possibilidades se desfazendo, possibilidades que você sequer é capaz de conceber, por que estavam tão guardadas em mim, que seria impossível qualquer um suspeitar. Por que talvez na minha vida tudo tenha sido assim, insuspeitado. Ou tenham passado assim, insuspeitadas.
Não fala nada. Eu não sei se suportaria ouvir sua voz agora. Você sabia que essa era uma das coisas que mais me atraia em você? A voz. Eu adorava as coisas que você me dizia, as juras que me sussurrava e não por que elas fossem bonitas, poéticas ou originais, mas por causa do som da sua voz as dizendo. Eu me divertia quando você tentava cantar e apesar de ser totalmente inapropriado você cantar em qualquer ocasião, eu achava até bonitinho. E eu subia pelas paredes com as baixarias que você gemia no meu ouvido, me chamando de gostosa, me dizendo o que fazer, dizendo que era meu macho e outras milhões de coisas que eu não tenho coragem de repetir. Você gemia, urrava, dava coordenadas, xingava, gritava toda sorte de nomes feios e que me amava.
Cada situação tinha um tom diferente. Uma cor, uma intenção diferente. Mas tinha qualquer coisa na qualidade da sua voz que parecia inalterada. E era isso que mais me atraia em você.
Não sei te precisar o que era, mas isso também não importa. Agora que você vai embora com todas essas recordações e possibilidades.
Uma vez fomos a um Videokê. Nada mais irônico!! Eu completamente apaixonada pela sua voz, por que talvez só isso em você tenha me conquistado, na pior situação possível pra que você utilizasse o objeto da minha paixão. Videokê já é péssimo pra quem canta, imagina pra você? O melhor é que você sequer se dava conta disso e cantava o máximo que podia, ou que te era permitido. Em sua grande maioria canções de amor, é óbvio, alternadas com músicas animadas ou engraçadas pra poder provar seu senso de humor. Que você jamais teria a audácia de cantar senão estivesse completamente bêbado. Eu sei.
Assim como eu sei que seu senso de humor só era realmente peculiar quando você bebia, mas isso você também sabia. Aliás, você parecia duas pessoas completamente diferentes ao beber, mas acho que todo mundo parece. Sempre me impressionou o fato de você perder completamente a timidez depois de dois ou três copos, e como parecia incapaz de uma ou outra tirada inteligente antes destes também. Talvez seja por isso que você seja incapaz de dizer qualquer coisa agora. Apesar de a bebida ser um ótimo álibi nestes momentos.
Mas você não precisa de um álibi, não é? Pra que precisaria? Você não fez nada errado. Ou me conhece bem o suficiente pra saber como eu tendo a lidar com esse tipo de situação. Como eu tendo a reagir de forma exagerada e quase irracional. Ou será ao contrário? De forma extremamente calculista e irônica? Não consigo me lembrar. Se você soubesse como sempre odiei essa sua mania de tentar analisar tudo e todo mundo. “Você sabe que eu sempre tive esse meu lado, meio Freud de quinta categoria” você deve estar pensando. Se você tivesse idéia de como essa sua frase é cafona!?! As pessoas riam de você, não com você. Riam da sua idiotice ao dizer isso e não por acharem engraçado , entendeu? Mas como eu disse, você jamais foi capaz de uma tirada inteligente enquanto estava sóbrio.
O que me faz lembrar essa sua insistência absolutamente irritante e despropositada de achar que essa barriga que você transporta pode ser atraente para qualquer ser com vida nesse universo. Não é. Ninguém acha. As barrigas atraentes são relativamente menores, eu pesquisei. Principalmente com aquelas que te disseram que era. Acredito que elas tenham feito isso por pena, ou qualquer coisa assim.
Era verdade quando eu concordava com você ao te ouvir defender sua teoria de que mulheres não gostam de homens bonitos, quem gosta de homem bonito é viado. Que isso não tem nada haver com futilidade, mas talvez com instinto maternal, de procurar o macho que irá oferecer segurança e tranqüilidade para ela e para a prole. Todo mundo sabia disso. E essa comparação com o mundo animal é um tanto quanto frustrante. E que segurança e tranqüilidade você era capaz de me oferecer? Alguma vez você parou para pensar nisso? Se nem intelectualmente você estava a minha altura! Se eu sempre ganhei mais que você!?
É bem verdade que não foi só pela sua voz que eu me apaixonei, talvez tenha sido. Já disse isso. Mas certamente não foi por ela que permanecemos juntos esse tempo todo. Você honestamente possui outras qualidades. As coisas que você me dizia, apesar de simplórias eram verdadeiramente cativantes. Você era ótimo na cama. Apesar de não ser fenomenal, nem insuperável. Gostamos de algumas coisas em comum, trabalhamos na mesma área, esse seu olhar de quem precisa de colo, essa cara de menino carente, com a capacidade de ser absurdamente safado... a forma como você me pegava; as demonstrações de carinho nas horas mais inesperadas; a forma como você me defendia na frente dos outros, mesmo quando eu tava errada; as críticas que você ouvia na frente dos outros, mesmo que fossem infundadas. VOCÊ PARAVA PRA DISCUTIR A RELAÇÃO!!! Você sabe o quanto isso é raro num homem, mesmo sem eu te dizer. Você sabia o quanto eu apreciava essas suas qualidades, mesmo sem eu ter que te dizer.
Assim como você sabia que jamais perdoaria se você cometesse metade do erro que acabou de cometer. Que não teve a menor consideração de ser discreto, fez abertamente na frente dos nossos amigos, quase como um convite pra que eu soubesse, quase como um pedido para que tudo terminasse. Eu sinceramente chego a crer que você fez intencionalmente para que eu tivesse que por um fim a tudo, e não você. E só fato de considerar que você seria capaz de algo tão desprezível e covarde é mais do que suficiente para acabar com essa relação sem me preocupar em ouvir o que você possa ter pra dizer, por que essa conjectura faz essa relação impossível de acontecer.
Então vá embora, antes que eu diga qualquer coisa de que possa me arrepender e você escute algo de que possa se arrepender, ou que ambos pensemos coisas de que iremos nos arrepender. O arrependimento é um sentimento tão mesquinho.
Por que você não disse nada? Uma coisa idiota que fosse. Por que não disse: “Desculpe. Eu te amo”?
Um comentário:
Ufa! Depois de uma bofetada dessas, quem é que vai contra-argumentar?
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