27 julho 2006

Na Cerimônia do Oscar desse ano a grande surpresa foi a vitória de “Crash - No Limite” sobre o franco favorito “O Segredo de Brokeback Mountain”, mas de certa forma, parece que assim a premiação acabou sendo mais justa ao laurear esses dois filmes, que no final das contas, falam da mesma coisa!

“Brokeback Mountain” causou sensação por ser o primeiro filme que aborda um relacionamento amoroso gay entre homens de maneira séria e que foi respeitado por isso, vide os prêmios que recebeu, e sendo bem recebido tanto por crítica quanto público. E é nisso que parece residir o maior trunfo do filme, sem desmerecer suas qualidades enquanto obra cinematográfica, mas o fato de que alarga seu alcance para algo além da comunicação emocional direta de uma obra de arte com seu espectador. Se por um lado a questão do preconceito está presente no filme de forma indireta, é mencionada, sentida, mas não é o foco da história, ainda que seja o preconceito alheio ou do próprio personagem consigo mesmo (esta sim mais forte e relevante para o desenvolvimento da trama). É justamente a questão do preconceito fora das telas que dá destaque ao filme, o preconceito que o filme, apesar de abordar um relacionamento que parecia tabu, acabou não sofrendo, sendo bem recebido por críticos e meio artístico e surpreendentemente, ou não, bem recebido pelo público.

Na contra mão, ou talvez de mãos dadas, encontra-se “Crash”. O filme aborda em primeiro plano a questão do preconceito, de diversas formas e em diversas questões. Seu grande trunfo é que ao contrario do que se pensa a primeira vista, onde se acha que ele pretende ser moralizador ao colocar os personagens em situações que lhes são “momentos de revelação e ensinamento”, o cerne da obra consiste em demonstrar como grupos que são vítimas de preconceito acabam estigmatizados, quase sacramentados nos preconceitos que sofrem devido às atitudes reiterativas de indivíduos de tal grupo, quer eles estejam conscientes de tais atitudes, como o da dupla de assaltantes, ou não, como Sandra Bullock.

O roteiro além de possuir alguns diálogos extremamente realistas, que parecem tirados da sala do vizinho ao lado, consegue dar conta de uma gama de situações com pouquíssimos personagens, mostrando todas as aparições do preconceito e das reiterações, seja pelo “preconceituado” ou pelo preconceituoso, indo fundo na ferida ao mostrar que mesmo quando se tenta fugir do papel de preconceituoso, as circunstancias podem levá-lo a este lugar.

Paul Haggis demonstra que além de bom roteirista, por este com Bobby Moresco e por “Menina de Ouro”, tem um futuro promissor como diretor, ao conduzir um filme que mescla uma certa dose de humor, sem apelar para fórmulas convencionais, com a dose certa de dramaticidade e boas atuações e que nos deixa perguntando não só quando podemos estar sendo preconceituosos, mas quando podemos estar reiterando preconceitos dos quais somos vítimas, já que na sociedade contemporânea até mesmo pessoas lindas, ricas, inteligentes, saudáveis, bem sucedidas e aparentemente com mais virtudes do que vícios, também são vítimas dessa “praga”.

Um comentário:

Segredo. disse...

Muito interessante!
Boa analise.

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